Meu nome não é Manuel Bandeira

Meu nome não é Manuel Bandeira.
Procuro a estrela da manhã no esgoto brasileiro.
As estrelas habitam a televisão, mas essa luz confunde.
Confesso-me e vou mais fundo,
salvar o pecado do pecador - este é covarde -
não arde porque espera um céu (sem estrelas).

Continuo procurando com minhas mãos apalpando o escuro.
Deixo a lâmpada acesa e não adianta.
A estrela da manhã foi dormir tarde.
Pensa em trabalhar à noite, é mais fácil, será mais uma.

Minha lida é ler esse chão onde piso sem ser poeta.

Meu nome não é Manuel Bandeira.
Estendo a esteira e deito sobre o peito da terra;
onde procuro a estrela caída, amiga do meu corpo
que brilha na tarde em azul.

Estalo os dedos, tenho ideia de tocá-la no momento
em que ela mergulha, sobrevivendo dentro, perdendo-se em mim
sem saber que existo,
sem entender que procuro a estrela da manhã pela noite vadia.

Na superfície da tarde cansada, procuro a estrela da manhã.

Meu nome não é Manuel Bandeira, mas procuro essa estrela
assustada que largou a estrada para ensinar que estrelas
são feitios dos olhos.

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