QUE ESTRUTURAS UMA FAMÍLIA TEM?

É muito comum, hoje, ouvir o seguinte discurso quando encontramos crianças desajustadas socialmente: “O problema é a família que está desestruturada.”

Fico pensando: Estruturada? Família é estruturada? De que estrutura se está falando? Ter uma casa, um teto, comida, um lugar para dormir? Neste caso, até aceito o argumento.

Mas se é para dizer que família é composta de pessoas sadias emocionalmente e de um bom nível de racionalidade para compreender uma criança de forma satisfatória e para que ela seja, no futuro, uma pessoa mais feliz com os outros e consigo mesma? Aí, eu discordo.

Parece uma mania. A família tem um atestado de idoneidade que eu não sei de onde tiraram. Talvez, porque seja o único lugar (imaginamos que é sempre assim) para onde podemos voltar num mundo em que não se privilegiou as oportunidades do convívio social. Aprendemos desde pequenos que os outros são ruins e que a família está aí para o que der é vier. O problema acontece quando começamos a crescer e se torna inevitável o encontro com os “outros”.

Crescemos (de tamanho e de inteligência) e a fantasia se desfaz. Começa na adolescência. Papai e mamãe têm que parar de mentir, não somos mais idiotas. Alguns crescem na idiotia. Querem se enganar por mais tempo, fica confortável assim. Quando o mundo nos é explicado de forma infantil, retira-se nossa responsabilidade sobre ele.

Gosto muito da história de Jesus. O mestre sabia que precisava conhecer o mundo, tinha um desafio pela frente, seu destino só iria se efetivar se enfrentasse e vivesse a vida. Nasceu numa família protetora. Sua mãe quis que ele ficasse, não fosse para o deserto, não tivesse contato com as adversidades, não escolhesse os amigos que iriam dividir o mesmo sonho. O que ele fez? Foi embora.

Essa linda história é um ensinamento. Os interesses da família não podem se confundir com o interesse dos indivíduos dessa família. Isso serve não só para as crianças, mas para todos. Quantos não se castram para poder manter uma imagem perfeita de família?

A família é importante. Não mais que a felicidade de seus membros. Quando se fala em “família acima de tudo”, desconfio. Sabemos que por trás de uma “família unida” há uma pessoa que é a persona orientadora. Então podemos fazer outra leitura da expressão acima: “essa persona orientadora estaria acima de tudo?”

Parece-me que essa importância exagerada com relação à família é um tributo cobrado por pais e mães (os provedores) pelos anos e anos de “devoção” e “sacrifício” que fizeram para manter as estruturas dessa complexa ideologia familiar.

Ora, onde fica o amor? Não fizeram mais que a obrigação. Pôr uma criança no mundo é uma responsabilidade. Essa nova pessoa que chega não deveria ser um sonho, um capricho, uma simples continuidade da família. Cada ser que nasce, traz consigo sua identidade e sua liberdade. Ela será o que será, independente dos desejos da família. E isso é insuportável para algumas pessoas que acreditam que podemos controlar o futuro e as pessoas que nele viverão.

Cuidemos do presente e cuidemos de nossas crianças. Cuidemos de nós adultos. Façamos novas famílias de novas maneiras.

Continuarei...

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