LAMENTO

a lágrima não chora
o verso não entende
por isso não fala
quando fala se enrola
quando cala se descontenta

a vergonha transita entre os móveis
o caminho é estreito e às vezes desaparece
e você fala o que deveria ser dito
mas não adianta gritar com os surdos
eles também são mudos
e suas palavras são olhares tão tristes

e quantas vezes você vai morrer
quantas vezes olhará para o chão sem ver estrelas
querendo a sorte
a sorte uma só vez

vasculhar o coração
desorganizá-lo procurando os medos
fazer uma bagunça
sacudi-lo com a cabeça para baixo
o que se acharia?
sonhos, algumas fantasias amareladas
que nunca foram usadas realmente

é preciso que se acerte logo essas coisas
é preciso jogar tudo fora
ou consertá-las
reformando cada segredo, cada desejo

ah, seríamos mais se o que a vida propõe fosse mais coerente
se todos tivéssemos tempo de sermos
se deixássemos a dor de lado
fôssemos pelos caminhos possíveis e necessários
traçando nossos futuros em furta-cor,
tudo explodiria, mesmo a dor seria uma só
e não estaríamos tão divididos

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