ENQUANTO FAZEMOS LUTO, PENSAMOS


O que aconteceu na boate Kiss em Santa Maria/RS merece respeito e luto sim. Mas seria bom se pensássemos no modo como os jovens andam “sem freio”. Virou moda “bota pra f...”, como eles dizem. Em qualquer lugar que você vai vemos ações de ousadia sem consciência. Jovens tolos, vivendo como se fossem adultos, comandando suas vidas sem a presença e a orientação dos pais.

Eu, que trabalho na Educação, sei que é muito difícil educar jovens. Mas não dá para abrir mão dessa responsabilidade. E toda a sociedade deveria participar dessa educação.

Por que estou falando disso, enquanto o Brasil inteiro chora com esse acidente? Penso no integrante da banda que pôs fogo na boate, mesmo “sem querer”. Quando um cara enche a cara de vodka e mata várias pessoas num ponto de ônibus com seu carro, também é “sem querer”.

Músicas como: “Vodka ou água de coco pra mim tanto faz, gosto quando você fica louca e cada vez eu quero mais...” são divertidas e podem parecer inofensivas, mas revelam um Brasil que está entrando de cabeça no excesso sem medir consequência, motivado por um crescimento econômico vazio de objetivos, é notório que a vida noturna está “quente” e a “pista tá sinistra”. Esses jargões de bandidos e contraventores entram na linguagem popular com plena aceitação e assistimos a tudo com um sorriso cínico na boca.

É assim que estamos vivendo. Na rua que moro, conheço uns seis ou sete jovens que praticam delinquência constantemente na frente dos olhos dos pais e ninguém reclama ou conversa sobre isso com eles. Quando a coisa acontece, é em forma de briga (Não estou falando de moradores de rua nem de usuários de drogas, até onde sei). Vejo neles a angústia do abandono, são pessoas que têm família, mas agem como se fossem bichos, ficam ali, vivenciando a rua de modo pobre, fazem questão de desagradar os vizinhos, não cumprimentam ninguém e gritam, como gritam. Não entendo essas agressões como um “simples momento da juventude”, parece mais um estilo de vida. Vejo seus pais e outros adultos do mesmo lugar que têm comportamento parecido, só não são mais desagradáveis porque devem ter um mínimo de vergonha social por causa da idade.

Quando jovem, também ia muito à rua. Para brincar, não para zoar. Até essa palavra “zoar” fala muito sobre os jovens que estamos “criando”. A escola, lugar de encontro e construção humana, virou uma piada na mão de jovens como esses. Eles fazem o que querem protegidos por administrações paternalistas, agridem o patrimônio público e ofendem os profissionais que trabalham ali. Nossa... quem serão os homens do futuro no Brasil?

Lembro da chacina de Realengo, lembro dos rapazes que tacaram fogo num índio em Brasília, lembro dos caras que espancaram uma mulher no ponto de ônibus porque acharam que ela era prostituta (E se fosse, podia espancar? Foi a desculpa dos advogados)...

Não quero criar polêmica num momento tão delicado para essas famílias... mas é bom pensar, isso nunca fez mal.

 

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