O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O ENSINO FUNDAMENTAL NO RIO DE JANEIRO?

Analisando o atual sistema e a realidade escolar no município, percebemos um adiamento do saber científico e clássico. A proposta da escola pública carioca é adiar o conhecimento técnico e formal para o Ensino Médio. Professores do 6º ao 9º ano, na Prefeitura do Rio, não conseguem mais dar suas aulas por dois motivos que parecem influenciar as salas de aula.

1º - O crescimento da classe pobre durante tantos anos, agora, inserida num mercado tecnológico, produziu nos seus integrantes um desânimo diante desse desafio: “Como ter vontade de estudar se fui obrigado a conviver com a ignorância e a violência esse tempo todo?”

2º - O interesse de políticos que tomam de assalto a educação, durante seus mandatos, é de transformar a escola numa grande creche. Isso retarda o contato de alunos com disciplinas mais complexas, infantilizando adolescentes, quando, na verdade, deveríamos prepará-los para a vida adulta.

Disciplinas como a de Língua Portuguesa, por exemplo, foi reduzida a interpretação de textos simples para “facilitar” o aprendizado. Professor de português que aplica gramática não é bem visto por uma pedagogia assistencialista que vitimiza os alunos. Alegam que gramática é “muito difícil” e que o professor dever ser um “facilitador”. Mudaram até o nome da profissão.

Ora, como desenvolver a inteligência sem estimulá-la? Sem desafio? Temos que facilitar ou temos que propor discussões, desenvolver teorias, estudar problemas? Qualquer pessoa sabe que em outro segmento da vida, fora da escola, são as adversidades que nos fazem crescer como indivíduos. Claro que a escola não precisa ser um lugar cruel, onde o aluno será castigado se não aprender a lição. O professor deve desenvolver essa sensibilidade, não precisa ter um sistema protegendo o aluno o tempo todo.

Receio que essa “proteção” não passe de uma falácia política e um descaso com uma classe social que ainda depende muito da escola pública. A quem interessa que os nossos alunos vivam dentro de uma simplicidade intelectual? Que eles não sonhem em concorrer a profissões de prestígio e influência social?

Cito o caso da J., 12 anos, minha aluna há três anos atrás. Elogiei-a, dizendo-lhe que escrevia muito bem e que era comunicativa, que ela poderia ser uma advogada ou uma jornalista, pelas habilidades naturais que ela apresentava, poderia estudar mais e se aperfeiçoar. Quando fui surpreendido pela resposta: “Professor, quando eu fizer 18 anos quero casar e ter dois filhos, um casal, e trabalhar de caixa no mercadinho ali na rua principal para ajudar meu marido”.

Nada contra as aspirações tão dignas da menina, mas por que essa sabotagem tão precoce? Repito, a quem interessa que ela não saia dali? Que as suas habilidades sejam consumidas pelo enfardo de trabalhar exaustivamente num mercado da periferia da cidade?

É assim na escola. E tenho certeza que os mais cínicos ao ler esse texto, fingindo que não entenderam o que eu quis dizer, irão afirmar: “Cada um faz o que quer da sua vida.” É mesmo? Então, por que não fazemos assim com nossos filhos? Por que os educamos? Por que os colocamos em todo tipo de cursos? Por que os fazemos experimentar a inteligência? Por que não os deixamos engravidar ainda tão jovens?

Vou tentar responder a essas perguntas: Porque nos preocupamos com eles.
E não vejo em políticos essa preocupação. Vejo planos mirabolantes que só servem para gastar recursos públicos. Vejo pessoas alienadas, perdidas dentro da escola, como se esta fosse uma empresa que tem a simples meta de cuidar do aluno e facilitar sua vida.

Não é assim que vejo Educação. E sei que ninguém a enxerga assim também. O cinismo e o mau-caratismo não combinam com o perfil da escola. Assim ela fica doente, perde o sentido.

Façamos alguma coisa, colegas professores. Não dá para esperar de político. O político é a consciência do povo. Nosso povo não está nada bem.

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